18.12.18

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 18-12-2018

Os músicos que vêm tocar para a vizinhança do Antiquari costumam ficar na Costa de Sa Pols, em baixo das escadas do Carrer d'Arabi. Este não: pôs-se entre o bar e a Babel. Começa por não me entusiasmar por aí além, mas depois toca o Tutti Frutti e a falta de entusiasmo transforma-se num quase desespero. O rapaz é bonitão e simpático, mas para tocar música talvez devesse considerar uma carreira nas obras públicas, na decoração de montras ou até, quem sabe, no tiro aos pombos.

Está porém longe de ser tão mau como um colega que há alguns anos tocava aqui também, mas na esquina da igreja (agora basílica). Esse era arrepiante de mau.

A verdade é que me sentei praticamente ao lado dele, mesmo no canto da esplanada da Babel e quando passou o chapéu dei-lhe cinco euros. É muito, eu sei, mas no fundo estava-lhe grato por não ser muito pior e penso que os músicos de rua com um nivel igual ou acima de medíocre mais devem ser encorajados. Já tive amigos músicos de rua, já tive inclusivamente uma namorada que cantava divinamente e devia ter cantado muito mais na rua do que cantou. Sei o que é, o que custa, a chatice de contar moedas, o problema que é para as trocar.

O rapaz agradeceu muito e quis meter conversa, mas pretendi que não falo espanhol e foi-se embora. Prefiro a generosidade - e a gratidão - silenciosas. Mais vale deixar a publicidade para as me too.

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O apoio da sapata sofreu um novo atraso. É praticamente impossível ver o P. arvorado antes de Janeiro.

Seria interessante ir agora a um psicólogo e falar-lhe em paus em cima e no que me fazem sofrer. Aposto que não interpretaria correctamente o meu desespero.

Só quem nunca tenha lido uma linha de Freud e faça vela percebe: Freud levaria inevitavelmente a um sorriso, mesmo que escondido e hoje não tenho espaço nem para um esgar, quanto mais um sorriso.

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