11.2.19

Stendhal e o amor, a virtude e os demónios

"Fora-se-lhe a virtude, agora que se lhe eclipsara o amor", diz Stendhal algures no Vermelho e o Negro. A citação é duplamente traiçoeira: de memória e de uma tradução não sei de quem.

Pouco importa: esta oposição entre o amor e a virtude é muito bonita, mas só é possível no séc. XIX. No XX o amor é desvirtuoso por natureza e no XXI virtuoso porque os demónios regressaram à esfera pública, de onde tinham sido escorraçados.

No séc. XXI o amor é virtuoso. Todo ele: o amor, o poli-amor, as relações abertas, as relações fechadas, as relações tout court... tudo banha em virtude. O amor lava mais branco, como o Tide, o Omo ou os sabonetes artesanais.

O amor de hoje tem asas brancas resplandecentes e cai do céu, tal Gabriel a anunciar à Virgem que não tardaria um fósforo deixaria o ser.

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