29.4.19

Palma, subir na vida: Fragmento

(Mas antes devo dizer que tive um dia de merda e que se essa merda tingir este post é merda do dia, não é merda de mais lado ou lapso nenhuns.)

Comecemos pela cidade, adorável. Poderia viver aqui e pensei nisso muito tempo. Agora menos, falta-me a cultura, aquela efervescência cultural de Lisboa, a família de Genebra ou a perspectiva de futuro de Mértola. De resto é linda, é um paraíso para quem anda de bicicleta - oiço menos buzinadelas em Palma num ano do que em Lisboa numa semana - e há dinheiro, o que significa que as miúdas são giras, a comida boa, as livrarias bem recheadas e as ruas limpas.

Os indígenas são sui generis, mas à custa de não te dares com eles aprendes a conhecê-los, respeitá-los e até, em alguns casos mais raros - apreciá-los. São fechados como ostras - mas curiosamente não chauvinistas como os catalães. Ignoram-te, simplesmente. Não se dão sequer ao esforço de te detestar ou sentir sejo o que for a teu respeito. Aqui, os estrangeiros dão-se com estrangeiros. Podes viver vinte anos em Mallorca sem aprender espanhol e ninguém acha isso estranho.

Há duas Palmas: a dos locais (que inclui turistas, "expats", "yachties" e outros palermas) e a dos nómadas, a dos gajos que sabem que não são daqui mas se estão nas tintas porque de qualquer forma tão pouco são doutro lado. A minha é esta, claro: uma cidade onde flutuo sem raízes mas com afectos, sem futuro mas com passados. Vivo numa guesthouse muito bonita, que vou ter de deixar esta sexta-feira porque os preços vão subir; eu subo também, para o segundo andar da mesma casa, o andar rasca. É a minha forma de subir na vida.

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