Pôr palavras umas depois da outras com o mesmo cuidado - e o mesmo escrutínio - com que miúdos púnhamos um pé à frente do outro para medir qualquer coisa, com uma concentração de vida e de morte.
De onde vêm? Quem deu o primeiro passo? Quem primeiro marcou no chão de terra uma dor, uma alegria ou esperança, um sorriso, a fremência do primeiro beijo, a brisa que antes de te acordar te agitou os sonhos e os misturou todos, como se a paleta de aguarelas que seguravas se tivesse entornado, como se a chuva?
Os teus passos são delicados; palavras de quem sabe os perigos do caminho, os precipícios, as zagaias que não espreitam mais ninguém se não tu. Um a um, uma a uma, vida a vida.
O resto guardas na memória. Ou melhor: nas memórias. As que já tens e as que um dia terás, quando se te acabarem os passos, as palavras, as vidas.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.