29.5.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 29-05-2019

Swing no Door 13. A banda é excelente: um viola, um senhor que alterna entre viola ritmo e clarinete e uma cantora com o físico do emprego - fina e alta - vestida a preceito e com uma energia impecável. Toca gaita de beiços e dança divinamente. É Suíça, fico a saber agora.

Começo com um Mai Tai, marginalmente melhor do que o do No Stress, onde estive antes (e provavelmente ao dobro do preço). Já a Marguerita é dez vezes melhor (e se calhar só custa o dobro). As coisas equilibram-se.

Seja como for, com música desta até whisky traficado se beberia. Felizmente o Door 13 é um bar sério, um speakeasy moderno, com produtos excelentes e profissionais quase tão bons como o Luís do Procópio, o Luís da ex-Casa do Largo ou o Senhor Miguel do Pavilhão Chinês.

Não me interpretam mal: este quase não tem nada a ver com a qualidade intrínseca dos senhores. Tem a ver com o facto de eu não os conhecer bem e nunca ter falado com eles.

Quem é quase sou eu.

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Somos o que somos quando interagimos com os outros. Sozinhos não passamos de nós próprios.

(A ideia não é nova mas a formulação é e preciso de a pensar. Era Borges que dizia "Todos acabamos por nos parecer com a ideia que os outros fazem de nós"? Era, creio.)

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Um gajo vai para a cama com uma senhora - bonita, por sinal - e a coisa resulta horrível, mais ou menos como tentar entrar numa parede de granito com uma colher de sobremesa. É uma situação que não tem culpados. Não há culpa. A coisa não funcionou, é tudo, seja qual for a razão.

Infelizmente, o nosso tempo transformou a culpa numa coisa pervasiva. Está em todo o lado. O acaso, a força das coisas, o tinha de ser desapareceram. Hoje há um culpado para tudo o que corre mal (e concomitantemente um herói para tudo o que sai bem).

Megalomania, é o que é. Precisaria de ser um Titan para sobreviver a tudo o que me correu mal se fosse eu o culpado, ou outro inocente qualquer. Reconhecer que as coisas são o que são e não há muito que possamos fazer é simultaneamente um reconhecimento de impotência e uma prova de força: não sou culpado e convivo muito bem com isso - e comigo.

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Uma das coisas que me impressiona na depressão é a sua resiliência.

(Cont.)

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