3.5.19

Vinho quotidiano, frio

Escrevo-te, escrevo-me, escrevo esta Palma chuvosa, fria e triste. Chovem-me por dentro, tu e a tua distância, a tua ausência, fazem-me frio, tu passeias-te por mim como eu nestas ruas molhadas, escorregadias, sozinhas.

Resolvi comprar uma boa garrafa de vinho, quero mudar do vinho de todos os dias, é um bocadinho como querer mudar da tristeza de todos os dias, não é, a tristeza habitual, tão habitual que já nem se degusta, como o vinho quotidiano.

Como a tua ausência, estas palavras que te procuram como a boca de um afogado procura o ar, esbracejando. Logo provarei o vinho novo, a tristeza nova, a solidão de sempre, o frio e a chuva de hoje.

Há cidades que não são feitas para a chuva, como Palma; há lábios feitos para  chamar por ti, os meus; corpos para ser amados, tu. Choves-me por dentro, mulher e eu pouco mais tenho do que o vinho quotidiano, o casaco que me deste, o frio.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.