22.7.19

Diário de Bordos - Portocolom, Mallorca, Baleares, Espanha, 22-07-2019

A última vez que fiz um charter foi por estas bandas. Começou em Menorca e acabou na Sardenha. Experiência catastrófica, em grande parte por minha culpa: mal cheguei vi o buraco em que me tinha metido e não me fui logo embora. Desde aí (foi há dois ou três anos) tenho feito só transportes, uma coisa completamente diferente, apesar de o meio ser o mesmo.

Vim para esta semana com uma atitude um bocado ambivalente: por um lado precisava; por outro, queria, para ficar a conhecer melhor Mallorca; por outro ainda - haverá atitudes trivalentes? - queria ver se passar uma semana com clientes (a mania do "guest" não chegou a Espanha, felizmente) ainda é um desafio ou já passou à categoria de seca.

Resposta curta: é um desafio e uma seca. Primeiro, o contexto: um grupo de dezanove pessoas, creio que três famílias, Peruanos, divididos por três Lagoon 450. A nós calhou uma família: pai, mãe, cinco crias (quatro raparigas e un varón) simpática sem mais. Ainda não encontrei o ângulo para trazer o senhor para bordo, como quando no big game fishing o peixe está ali ao lado do costado na ponta da linha e agora é preciso embarcá-lo. O homem é fechado, desconfiado. O que mais me impressiona é a dependência dos miúdos (o rapaz, de quatro anos está incluído) do wifi. É permanente. Os pais são cúmplices, com a velha desculpa de que "se não eles chateiam-se". Tadinhos. A verdade é que em Cabrera, onde não há rede, acabaram por se divertir à grande. Os miúdos só se "chateiam" se nós os deixarmos. Como qualquer miúdo em qualquer parte do mundo podem viver sem estar agarrados a um telefone, iPad ou o que for electrónico. Da obsessão do pai com o ar condicionado não há muito a dizer: já a conheço. Os americanos, venham eles do norte, do sul ou do centro do continente não podem viver sem ar condicionado. Ponto. O gerador não pára. Esta noite pediram-me para subir a temperatura, mas apagá-lo está quieto.

Esta dependência de máquinas é doentia, dói-me. Não são capazes de estar setados e olhar em volta, de passar cinco minutos sem música (que ainda por cima é um horror. A música pimba sul-americana devia ser incluída na categoria "tortura" e dar direito a um bónus triplo).

Mas é bom; é bom; é bom navegar, por pouco e a motor que seja (vinte nós na proa tanto à ida para Cabrera como à vinda para aqui); conhecer finalmente Cabrera, uma reserva natural que apenas aceita uma quantidade limitada de barcos cada dia; ter uma stewi que é uma pessoa decente, mesmo que por vezes me pareça vai levar algum tempo até descobrir a pólvora). O percurso está bem desenhado, os colegas são para cima do impecável, a rapariga desenrasca-se bem no fogão. Tenho de rever esta história do charter versus transporte versus skipper de armador...

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Um dos meus colegas foi minista. Lembra-se da Dois Oceanos (que não fez); mas fez as Minis de 2005 e 2007. Ou seja, já nos cruzámos: nesses anos estive em Salvador na chegada da Mini e organizei a primeira escala no Funchal. O mar é tão pequeno!

"I know them. I am one of them" (já chegou o livro. Chama-se Selected Bequia Poems. O autor é Richar Dey. Preparem os sacos. A viagem até Bequia é longa mas não requer muita bagagem.)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.