11.7.19

Quotas

Esta história das quotas não me sai da cabeça. Há pouco lembrei-me de que durante muito tempo, cada vez que ia a França, perguntavam-me de onde é que eu era (para quem não sabe: os franceses são obcecados com a origem das pessoas. Brassens tem uma canção genial a esse repeito, chama-se Balade des gens qui sont nés quelque part, podem ouvi-la no FB).

Um tempo.

Um dia resolvi experimentar ter uma namorada estúpida. Um dos dramas da minha vida é que só consigo seduzir mulheres inteligentes (hoje já não é um drama, apresso-me a esclarecer). Mas naquele tempo longínquo resolvi experimentar a estupidez no feminino. Estava farto de ser o único estúpido do casal (questão de equilíbrio, sem dúvida. Um casal comigo e com uma mulher inteligente é muito assimétrico).

Um tempo.

Encontrei uma rapariguinha muito bonita, argelina, que um dia convidei para jantar num restaurante da moda de Dunkerque. Durante o jantar, lá vem a pergunta fatal:
- De onde és? - (traduzo agora porque não me apetece traduzir depois.)
- Sou chinês.
- Chinês? Mas não pareces nada chinês.
- Não, eu sei. Mas por favor não digas a ninguém, o meu pai ainda não sabe.
- Ok, prometo - disse muito seriamente. A miúda passou o resto do jantar a olhar para mim, ver se descortinava um simples traço de chinês nesta cara tão ocidental que me calhou na rifa genética.

O jantar desenrolou-se normalmente, mas fui deixá-la a casa e voltei sozinho para bordo. Não há beleza que vista correctamente uma insuficiência de sinapses. Ou que a dispa.

Dois tempos.

Agora, imaginemos: estou por acaso em Portugal, recebo uma folha a perguntar-me a etnia e respondo «preto por dentro (duvido. deve ser mais do género Afro-descendente, ou coisa que o valha); chinês por fora, mas devido a um erro na transcrição DNA / RNA pareço branco. Qual a etnia que devo assinalar?» e é uma longínqua descendente daquela argelina (atraída sem dúvida pelas maravilhas de Lisboa) que lê a resposta.

Hummm... Acabaria na televisão, aposto. Ou na cama, vá lá saber-se.

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