4.8.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 04-08-2019

Saí para ver os gatos, passear a cadela, beber Mojitos no Door 13, pensar na falta de juízo que é amar quem o tem, no juízo que é não esperar nada de quem o tem... O juízo é como o clube do Groucho.

Sou o único cliente do bar. O guitarrista toca para mim e não para ele, o que é admirável e me traz à memória aqueles músicos que por vezes ouvia no Tati, ao lado do Gonçalo: a casa estava a abarrotar e tocavam para si próprios. Um deles é hoje um grande  saxofonista, parece. Chama-se Ricardo Toscano. Não o oiço há muito tempo. O outro era um baixo. Não me lembro do nome. Romeu, Romão, algo assim. Tocavam maravilhosamente, mas ouviam-se tocar. Não sei como definir isto, mas sei o que sinto quando escrevo algo rebuscado, algo que tive de procurar muito tempo. (Depois, acabo a procurar ainda mais tempo por qualquer coisa menos trinca-fininho, mas este é um tema de que não percebo nada. Não sei discutir impressões. Fiquemos por aqui.)

Chegaram mais clientes. Mojito vence plural: mojitos. O juízo deixa de ser uma questão, diz boa noite, põe o chapéu e vai-se embora - devido à música e à escrita, não às bebidas (a segunda ainda nem sequer chegou, de resto).

Pouco a pouco o dia recompõe-se: passei-o a fazer limpezas. Domingo é o dia do Senhor e da senhora, mas aqui a senhora sou eu. Limpei e arrumei a despensa e a cozinha a fundo. Sou o mais doméstico dos nómadas.

Ou o mais vagabundo dos domésticos?

Não sei. Não tenho uma opinião definida sobre a maioria das coisas. Para mim, formar uma opinião é como subir uma montanha ou fazer quinze dias de bolina cerrada com ventos de vinte nós ou mais. Por isso é tão difícil fazer-me mudar de ideias (se bem não seja impossivel, claro: não sou homem de recusar um desafio, infelizmente.)

Invejo muito quem consegue ter opiniões no armário, à espera do dia em que devem ser usadas. As minhas estão todas en desordem, parecem um bando de gatos selvagens e esfomeados: é preciso dar-lhes de comer para os acalmar. Depois de muito comer lá se ordenam um pouco, como este guitarrista que agora toca também para os outros clientes, pacificado. Ter só um ouvinte dava-lhe energia.

Não sei. Divago. Digato. Diz, gato. Juízo!

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