13.9.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 13-09-2019

São onze da manhã, o Aurélio já está cheio, não pára este homem, mesmo quando está vazio parece um trinta e três a tocar em setenta e oito, mas sem distorção de som. A analogia não ê correcta, o homem não perde a elegância,  imagino que já nasceu assim, deve ter dado o primejro grito mal a boca chegou à luz do dia, nem antes nem depois, tudo ao minuto, ao segundo, é bonito de ver.

Eu sou lento, prefiro a lentidão, já assim sou suficientemente desajeitado, passeio pelo mercado com o braço hidráulico do piloto num saco, bebo um café, a rapariga do Arabay pede-me para lhe tirar o saco do caminho e tenho vontade de tirar o braço do saco e mostrar-lho, está tão bonito, tão bem lixado, o I. fez um trabalho de jóia, primeiro vamos beneficiá-lo depois pintamo-lo, à primeira vista não precisa de muitas peças mas nisto a primeira vista vale nada. É doloroso vê-lo, apesar de tudo, um braço hidráulico é uma peça caríssima e que dura para sempre, só precisa é de amor e ternura, não muito sequer, um bocadinho de atenção, enfim, veremos como estão as juntas e o piston, espero que estejam bem, um braço hidráulico é uma maravilha tão bela como a Vénus de Milo ou mais ainda, a Vénus não se mexe.

Não sei, não percebo nada de Vénus, de Milo ou de braços hidráulicos, acabei no Aurélio a beber um vermute, já são horas, a junta rotatória [??? - tradução do Google, alguém me ajuda? Em inglês é um swivel e em francês um pivot] está completamente corroída, que porra, um bocado de massa de tempos a tempos não custa nada, como é que se deixa o material chegar a este ponto, alguém me diz?

Passou a hora da merenda e ainda é cedo para o almoço, o Aurélio está vazio (isto é, tem pouca gente, isto só se esvazia quando fecha) lá fora chove - o badanal veio, desta vez, é meio-dia e parece meia-noite - e eu penso no braço, no tanque de fuel, na electricidade,  na marina, no Mauro, no Inverno,  tomara a minha mente tivesse a agilidade do Aurélio.

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Venho para casa meio almoçado, deixo a carne para o jantar, oiço música da Renascença pelo Jordi Savall mas não é nada disto que interessa. O que interessa é que pela primeira vez em muito tempo tenho balizas temporais no meu pensamento (se é que se pode chamar a isto pensamento, talvez chorrilho seja mais adequado, admito).

Está na hora do almoço. ¡Qué vaya! ¡Comida!

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