23.10.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 22-10-2019

O passado é um país diferente porque é aconchegante, aprazível, parece um daqueles xailes que as senhoras de idade põem pelas costas. Quando o passado era presente era o que era: uma chatice, uma alegria, uma coisa qualquer. Quando era futuro, uma incógnita. Mas agora que é passado é mais confortável do que um sofá à frente de uma lareira, cachorro de um lado e whisky do outro. Entramos nele e o presente fica imediatamente mais fácil, mais leve, risonho.

Fui jantar a um restaurante brasileiro e mal cheguei vi-me em Salvador, no Rio, lembrei-me dos rodízios todos e das caipirinhas todas, lembrei-me da feijoada, dos dias que passei com a minha filha H. na minha amada S. Luís.

(Tive de deixar a bicicleta no restaurante e vir de táxi, porque está a chover torrencialmente.)

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O P. avança a galope, a rédeas largas. Cheira-lhe a mar e a mim também. Todos os dias tropeçamos e todos os dias nos levantamos dois grandes passos à frente.

Seriam três sem os tropeços? Também o céu seria azul sem a chuva: que interessa? Onde poderia estar nada, de certeza. Onde estou sim, muito: amanhã estarei mais à frente.

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D. voltou para a Alemanha e eu para a solidão. Posso estar enganado, mas parece-me que nem a Alemanha nem a solidão são as mesmas de antes.

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