9.1.20

Fragmento

"...Às vezes penso escrever-te; outras não. Podemos resumir isto assim: às segundas, quartas e sextas quero escrever-te; às terças, quintas e sábados pergunto-me se devo dizer-te para ficares em minha casa. Mas então aparece a pergunta: «se eu não lhe disser isso, que direi?» E todas estas perguntas vão para domingo, um dia que dedico a permitir-me tudo e o seu contrário sem cair em dissonância cognitiva.

Seja como for, resolvi quebrar este círculo aparentemente inquebrável. a) Escrevo-te numa quinta-feira (muito jovem, mas quinta); b) Digo-te que realmente não sei o que sinto, mas isso não data de hoje; c) Não te digo que devias ficar; d) Não te digo que não deves ficar.

Uma coisa sei de ciência certa: não contes comigo para ser a locomotiva do que quer que seja.

Isto é: a quinta-feira olha-me, jovem; as velas queimam, avancei três páginas no livro que estou a ler; comi duas tangerinas - duas! - e escrevo-te (...). Agora vou dormir.

Talvez o sono estivesse à espera de que as palavras saíssem, como se estivessem a ocupar o seu lugar. Gosta de salas vazias e não delas mobiladas, com bagagem antiga e coisas deixadas ao acaso por todo o lado, cheias de memórias e de planos para o futuro. «Planos» sendo um sinónimo até este momento desconhecido de «dúvidas.»"

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