5.1.20

Sem olhar para trás

A ideia original era falar de conflitos escondidos, não era? Ou visíveis, já não me lembro. Foi há tanto tempo. Hesito. Hoje digladiamo-nos sobre tudo, menos sobre aquilo em que divergimos completamente.

Para essas coisas, acordámos silêncio. Compreende-se, não é? Aos sessenta começa-se vagamente a perceber que a luz ao fundo do túnel é o comboio. Um dia, essa percepção deixa de ser vaga e transforma-se em certeza.

Certeza não é a palavra certa. Há um ímpeto em certeza que nesse dia está ausente. Resignação tão-pouco é correcto. O termo certo anda aí pelo meio, algures entre certeza e resignação.

Que se lixe. Um dia vemos a luz, sabemos que é o comboio apesar de ainda não o vermos e tratamos de fazer com que o encontro seja o menos chato possível. Que seja natural, por assim dizer, como um copo de vinho que se acaba, um parêntese que se fecha, um olhar que nos diz au revoir sabendo perfeitamente que não há revoir nenhum.

No fundo, tenta-se responder à pergunta "que fiz eu desta noite?" sem olhar para trás. 

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