28.2.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 28-02-2020

L. Cohen em círculo. Há doenças que valem mais pela cura do que por si próprias.

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Colheita do dia:

- Tetas? Falta-me paciência para as que me querem e jeito para as que não.

- O amor e o ódio não são simétricos. No outro, amamos os seus defeitos; e odiamos os nossos, que nele vemos plasmados.

- Dou-me bem com as imperfeições do mundo. [Um tempo.] É mentira. [Resposta:] «Claro que é mentira!»

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Jantar no O Taku. O sake é esplêndido e os gyozas aceitáveis mas cada vez suporto menos restaurantes de onde saio com a roupa a cheirar a comida. Estou a emburguesar-me, é o que é.

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Pela primeira vez regressei a Palma sem vontade e pela primeira vez estou impaciente, verdadeiramente impaciente por voltar a Portugal para a semana. Há pouco tempo (ontem) fiz uma comparação entre as cidades e as mulheres. Falsa comparação: a mulher é o mundo, não é como ele. Uma cidade, um barco, uma vida não são comparáveia a uma mulher porque não passam de diferentes formas dela.

Duvidam? Perguntem ao Leonard.

(E para outras coisas menores ao Gordon Lightfoot, If you could read my mind.)

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Por falar de quem tem respostas a perguntas que ninguém faz (porque já estão feitas há milhares de anos e não têm resposta): S. ofereceu-me uma versão do Divân, de Hafez. Há muito que o conheço apenas de fragmentos, de ouvir dizer, de passagem.

À Dieu ne plaise qu'à la saison de la rose je renonce au vin.
je me vante d'être raisonnable. Comment ferais-je cela?

Où est le ménestrel? Que toute ma récolte d'ascèse et de science,
Je la consacre au son du luth, à la voix de la flûte!

Mon coeur est maintenant saturé des bavardages de l'école.
Je suis quelque temps au service de l'Aimé et du vin.

(....)

Cette âme d'emprunt que l'Ami confiat à Háfez,
 Un jour je verrai Sa face et la Lui remettrai.

(Desculpem, não resisti à tentação de pôr sta última estrofe em negrito. É boa de mais.)

A tradução é de Charles Henri de Fouchecour, a edição iraniana e eu vou ler. Google garante-me que o senhor é um eminente orientalista e nada me resta senão acreditar.

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Segunda íamos levar o P. para Calanova, mas vai estar mau tempo. Vamos quarta, que é a porta ao lado. Não acreditem em nada do que digo. Um barco é infinitamente mais complexo do que uma mulher.

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Fiz um pacto comigo próptio: não falar do P. Alguém alguma vez ouviu Sísifo falar da montanha, ou da pedra?

1 comentário:

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.