Fim de dia feliz:
a) Gosto de entrar em bares fechados, do cheiro a tabacum (como diria a minha Mãe, que acrescentava o sufixo «um» a tudo o que lhe parecia exagerado e portanto desagradável), dos murmúrios das conversas que ficaram do fecho, da geografia que muda porque as luzes estão apagadas e as cadeiras todas vazias. Gosto sobretudo do sinal de confiança, de amizade, que há em ser convidado para um copo no melhor bar do mundo quando este está fechado. Viva o Procópio, obrigado M. J.;
b) Desco a pé sem destino pré-fixado e passo na Livraria da Travessa. Pergunto se têm o Avenida. Têm, num expositor e não numa estante;
c) Venho ao Comida Independente, único sítio em Lisboa onde posso comer um petisco que seja simultaneamente muito bom, muito caro e parco na quantidade (não é piada; é a única forma de me fazer comer menos). Tudo estava magnífico (tudo sendo um brioche com um chouriço acebolado e mais uma dúzia de ingredientes e um vinho do Cadaval - região da qual não sou, de ordinário, grande fã) até me lembrar de perguntar se têm «uma sobremesa que seja simultaneamente pouco doce, pequena e se deixe acompanhar por um vinho generoso, um colheita tardia, qualquer coisa assim» (aspas porque me cito). «Não temos sobremesas, mas posso improvisar-lhe uma. E vinhos assim, só Porto e Madeira. Olhe que o Madeira é muito bom».
O Madeira é melhor do que bom, é sublime e a «improvisação» (doce de leite de cabra com iogurte) uma maravilha.
Se não tivesse já uma casa ali para os lados de Anjos, o Comida Independente seria a minha casa. Talvez casa seja como vidas e se possa ter várias, não? Tenho tantas, por esse mundo fora...
[Adenda: afinal não foi assim tão caro. E se na equação integrarmos os factores subjectivos, foi dado.]
d) Compro o meu primeiro - e de longe não último - livro de João Luís Barreto Guimarães, autor que conhecia de forma difusa, osmótica. O livro chama-se «você está aqui (sic)». Maravilha de humor e sensibilidade, folheio-o docemente, como se estivesse a percorrer uma pele ferida, um corpo magoado, um olhar que tenta esconder as lágrimas atrás de um sorriso. Que bem vai com este dia no qual me perco, tento despistar-me como uma raposa a fugir da horda de caçadores que a persegue.
a) Gosto de entrar em bares fechados, do cheiro a tabacum (como diria a minha Mãe, que acrescentava o sufixo «um» a tudo o que lhe parecia exagerado e portanto desagradável), dos murmúrios das conversas que ficaram do fecho, da geografia que muda porque as luzes estão apagadas e as cadeiras todas vazias. Gosto sobretudo do sinal de confiança, de amizade, que há em ser convidado para um copo no melhor bar do mundo quando este está fechado. Viva o Procópio, obrigado M. J.;
b) Desco a pé sem destino pré-fixado e passo na Livraria da Travessa. Pergunto se têm o Avenida. Têm, num expositor e não numa estante;
c) Venho ao Comida Independente, único sítio em Lisboa onde posso comer um petisco que seja simultaneamente muito bom, muito caro e parco na quantidade (não é piada; é a única forma de me fazer comer menos). Tudo estava magnífico (tudo sendo um brioche com um chouriço acebolado e mais uma dúzia de ingredientes e um vinho do Cadaval - região da qual não sou, de ordinário, grande fã) até me lembrar de perguntar se têm «uma sobremesa que seja simultaneamente pouco doce, pequena e se deixe acompanhar por um vinho generoso, um colheita tardia, qualquer coisa assim» (aspas porque me cito). «Não temos sobremesas, mas posso improvisar-lhe uma. E vinhos assim, só Porto e Madeira. Olhe que o Madeira é muito bom».
O Madeira é melhor do que bom, é sublime e a «improvisação» (doce de leite de cabra com iogurte) uma maravilha.
Se não tivesse já uma casa ali para os lados de Anjos, o Comida Independente seria a minha casa. Talvez casa seja como vidas e se possa ter várias, não? Tenho tantas, por esse mundo fora...
[Adenda: afinal não foi assim tão caro. E se na equação integrarmos os factores subjectivos, foi dado.]
d) Compro o meu primeiro - e de longe não último - livro de João Luís Barreto Guimarães, autor que conhecia de forma difusa, osmótica. O livro chama-se «você está aqui (sic)». Maravilha de humor e sensibilidade, folheio-o docemente, como se estivesse a percorrer uma pele ferida, um corpo magoado, um olhar que tenta esconder as lágrimas atrás de um sorriso. Que bem vai com este dia no qual me perco, tento despistar-me como uma raposa a fugir da horda de caçadores que a persegue.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.