22.3.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 22-03-2020

Choveu e a luz ao acordar - ainda não tinha chovido - era aquele amarelo-acinzentado de antes do temporal. Agora caiu o que havia a cair, pelo menos para já, o ar está claro e o cheiro da fabada flutua pela casa, enche-a como espuma um colchão. Barbara canta as suas histórias de amor, que são trágicas e melancólicas e inquietantes porque começaram mal.

Agora é esperar um par de horas, vigiando atentamente a cozedura. Este fogão não é um fogão, é uma dessas merdas de placas de indução e não há maneira de pôr a temperatura que quero. Como é que a modernidade, uma coisa tão boa, consegue criar monstros destes? Cozinhar é uma coisa básica, fundamental. Tenho a certeza de que os trogloditas, meus irmãos assíncronos, conseguiam controlar a temperatura de cozedura dos seus bisontes.

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Oiço Paco Ibañez e penso que em Portugal muita gente põe Zeca Afonso nos píncaros, vê em José Mário Branco um cantor e ouve Jorge Palma com deleite.

O mundo é um lugar curioso.

[Adenda: de Ibañez passo para Brassens, hoje deu-me para a canção. A música é diferente, o espanto mantém-se.]

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A fabada estava boa, mas não canónica. Questão de treino e matéria-prima.

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O Sol voltou e a rua retomou os seus tons monocromáticos. Parece que a rua vai até ao céu

Na volta vai, quem sabe?

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.