20.6.20

Vírus, nihilismo e outras considerações sobre o século XX

Oiço o R. preparar a piña colada como lhe ensinei: com o shaker, ligeiramente mais leite de coco do que o recomendado, nada de gelo, seja ele moído ou em cubos. Gelo é água, coisa de demónios: precisamos deles - que seria uma vida só com anjos? - mas temos de os manter à distância. (Pequena nota ao post anterior: a margarita do 7 Machos continua impecável. Recomendo-a.)

A polícia interrompeu duas vezes a festa no Lo Divino, diz-me A., a DJ. Querem deixar-nos um mundo perfeito. Visivelmente já se esqueceram do resultado das tentativas feitas no séc. XX, o melhor da história da Humanidade - pelo menos se o critério for o número de mortos. Nunca se matou tanta gente por milhão de habitantes como no séc. XX e nenhuma das mortes foi por maldade. Todas tinham um objectivo "bom": a pureza da raça, a igualdade, a liberdade. Agora não matam pessoas, matam a vida. Sempre dá melhor consciência. Porra, já não se pode fazer uma festa num restaurante a meio do dia? Que cidade queremos? Asséptica, insonora, desinfectada, sem «maldade», feita de paz e amor - fake peace and fake love, que nada disto suporta um grama que seja de verdade, de realidade, sem racismo, sem história.

Não há nihilismo que resista a tanta estupidez. É preciso ir para as barricadas.

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