4.7.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 04-07-2020

Uma pergunta: o equivalente moderno de dormir em quartos separados é ter Facebooks separados?

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O lugar chama-se La Madeleine de Proust e eu estou farto de francesas pedantes. Será que o dia pode continuar, agora que o fel saiu?

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Pode. Chegas a bordo do P. e apercebes-te de que o teu fel é de uma futilidade. A pergunta agora é: porque não têm os alemães e os holandeses o clima, o carácter e os preços de Portugal e Espanha? (Refiro-me a preços nominais. Preços reais devem andar perto.)

(Esta pergunta é retórica. Ainda o ano passado estive num estaleiro holandês que trabalhava tão mal como qualquer espanhol.)

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É preciso um gajo ser um bocadinho especial para gostar disto.

Já para não ser capaz de fazer outra coisa a particularidade necessária multiplica-se por mil. (Pergunto-me se não muda de natureza...)

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Palma é uma espécie de banho tépido que torna as contrariedades em coisinhas risíveis, incidentes tão graves como, para um ambientalista, esmagar sem querer uma formiga. 

Ou: Palma é um poderosíssimo ácido que dissolve contrariedades e as substitui por um bálsamo feito de tempo, de fatalidade e de "qu'est-ce qu'on s'en fout" irrealista, como se a função da geografia fosse demonstrar que a geografia é tudo e sem ela somos nada. Somos onde estamos.

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Amo-te Palma, como Amo-te Lisboa são declarações de amor narcisistas. Quase: não me amo tanto como amo as duas.

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Somos todos prima donne, neste trabalho. A diferença é que alguns são responsáveis e outros não.

(Uma prima donna responsável é uma prima donna coxa, eu sei.)

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