Primeira e espero última pega por causa da máscara. Refiro-me a pega mesmo, comigo a dizer à senhora para se calar. Não estou na minha terra. O que me põe fora de mim não tem nada a ver com a máscara. É a estupidez. É sórdida, desumana, deixa o homem despido daquilo que o fez humano. (Neste caso é mulher, mas isso não tem nada a ver.)
Felizmente a raiva esvai-se depressa. Este ralo enorme que é a beleza da praça del Banc de l'Oli, o sublime lombo de porco assado do Tom, a beleza da senhora da mesa em frente à minha, infelizmente demasiado longe para meter conversa, engole tudo. Há uma concatenação de beleza, não é? O calor, a praça, o lombo de porco, a senhora sozinha na mesa em frente, demasiado longe. Apetece-me ir ter com ela e dizer-lhe «Olá. Chama-se Mireille? Tem cara de Mireille. É um nome muito bonito, sabe? Se bem os meus favoritos sejam Helena e depois Laura. Para mim, as Lauras que não conheço são loiras, como a do filme. Ficaria muito feliz se você se chamasse Mireille, é um nome que lhe assenta bem, como um chapéu grande a um rosto oval ou um vestido pouco decotado a uma senhora com os seios pequenos. (Não, não trabalho na moda.) Costumo atribuir nomes às mulheres bonitas que por uma razão ou outra me seduzem. Me atraem. Me fazem sonhar, como você faz. É parte de uma concatenação, um grupo de elementos cuja beleza se adiciona e multiplica a dos outros. Gosto de si porque não está a ler, nem a escrever, nem a mexer no telefone. Observa, e esta praça não pede outra coisa senão que a observem. Que idade tem? Eu sei que isto não se pergunta, sente-se. Mas esta conversa é imaginária, não tem importância. Aposto que tem quarenta e poucos anos, não? Talvez trintas, quase entas. Não sei. Não tem importância. Nada tem importância, na verdade, excepto esta esperança de que você se chame Mireille, aprecie a beleza deste fim de tarde tanto como eu e não seja estúpida. As mulheres desconhecidas que me atraem nunca são estúpidas. A estupidez tira a graça toda ao sonho.»
(Com um abraço ao D. P. F.)
Felizmente a raiva esvai-se depressa. Este ralo enorme que é a beleza da praça del Banc de l'Oli, o sublime lombo de porco assado do Tom, a beleza da senhora da mesa em frente à minha, infelizmente demasiado longe para meter conversa, engole tudo. Há uma concatenação de beleza, não é? O calor, a praça, o lombo de porco, a senhora sozinha na mesa em frente, demasiado longe. Apetece-me ir ter com ela e dizer-lhe «Olá. Chama-se Mireille? Tem cara de Mireille. É um nome muito bonito, sabe? Se bem os meus favoritos sejam Helena e depois Laura. Para mim, as Lauras que não conheço são loiras, como a do filme. Ficaria muito feliz se você se chamasse Mireille, é um nome que lhe assenta bem, como um chapéu grande a um rosto oval ou um vestido pouco decotado a uma senhora com os seios pequenos. (Não, não trabalho na moda.) Costumo atribuir nomes às mulheres bonitas que por uma razão ou outra me seduzem. Me atraem. Me fazem sonhar, como você faz. É parte de uma concatenação, um grupo de elementos cuja beleza se adiciona e multiplica a dos outros. Gosto de si porque não está a ler, nem a escrever, nem a mexer no telefone. Observa, e esta praça não pede outra coisa senão que a observem. Que idade tem? Eu sei que isto não se pergunta, sente-se. Mas esta conversa é imaginária, não tem importância. Aposto que tem quarenta e poucos anos, não? Talvez trintas, quase entas. Não sei. Não tem importância. Nada tem importância, na verdade, excepto esta esperança de que você se chame Mireille, aprecie a beleza deste fim de tarde tanto como eu e não seja estúpida. As mulheres desconhecidas que me atraem nunca são estúpidas. A estupidez tira a graça toda ao sonho.»
(Com um abraço ao D. P. F.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.