7.7.20

Jair Bolsonaro, a Covid e o Bem

Bolsonaro contagia-se e todos os anjos do bem lhe caem em cima. Detesto o homem, politicamente e provavelmente detestá-lo-ia em pessoa, se o conhecesse. Mas pergunto-me o que diriam tantos anjos do bem se alguém desejasse a morte de um preto, por exemplo? Ou de um imigrante daqueles que de qualquer forma morrem no Mediterrâneo? Ou de actor muto conhecido - imaginem que alguém se regozijava com a morte daquele senhor que há pouco tempo se matou. Aposto que todos os que querem a morte do presidente brasileiro são contra a pena de morte.

(Ainda por cima, esquecem-se de saber ler jornais: o vírus não mata todos os que infecta. Mata só uma pequena percentagem dos contagiados e uma mais ainda da população em geral.)

É um problema no qual penso muitas vezes: onde colocar a linha? Ninguém duvida de que matar Hitler é um imperativo moral, tal como matar Estaline, Lenine ou Mao Zedong. Bolsonaro, Trump, Johnson não estão obviamente na mesma linha. E Putin, está? Xi Jinping? E aquele noruguês que matou setenta e tal putos num acampamento? Esse talvez a mereça mais do que o idiota do Jair, não? Penso que sim, mas não quero desviar-me do ponto central deste post: a coerência é a marca de um espírito simples. Os espíritos complexos que hoje querem a morte do palerma do Bolsonaro amanhã vão marchar contra o racismo, defender as vidas dos pretos, lutar contra a pena de morte e estarão em acordo com as suas deliciosas consciências, tão boas, tão pacificadas. tão refastaladas no Bem que fazem inveja.
 

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