6.9.20

Até amanhã

O périplo pelo Norte acabou. Em termos de vendas de livros não foi propriamente brilhante. Vai ser preciso mudar da estratégia. Contudo, em muitas outras coisas foi maravilhoso: descansei. Descansei física e mentalmente. A dor na anca atenuou-se bastante e a cabeça parece o quarto de um adolescente depois de a mãe lá ter passado: ainda cheia, mas pelo menos com cada coisa no seu lugar. Esperam-me uma dúzia de dias em Mértola: aposto que o quarto vai ficar vazio. Revi Guimarães, cidade exemplar porque está recuperada e não é uma caixa de bonbons, como Óbidos, exemplo. Nada naquele centro histórico enjoa. Conheci pessoas que gostei de conhecer, pessoas em que vejo aquilo que nós portugueses temos de bom, em quem me revejo: a hospitalidade, a abertura de espírito, a tolerância, a generosidade. Vi os meus textos fugirem da caixa, lidos por uma sublime leitora (acresce que a selecção foi estupenda). Confirmei que as amizades aparecem e crescem onde menos se espera.

Confirmei, sobretudo, aquilo de que há muito suspeito: a minha vida é a minha melhor obra de arte, não a trocaria por nenhuma outra, é uma obra que não cabe num museu e que, quando eu morrer, continuará nos livros, no DV, na memória de quem me conheceu. Os momentos de sofrimento por que passei - tantos! - equilibram-se muito bem com os de exaltação - ditto - e agora, que a obra se aproxima do fim, entrou na recta final, tudo se equilibra, tudo cai no sítio e mostra a sua intrínseca claridade, a sua indomável liberdade. 

Dei este nome ao blogue para homenagear um dos barcos de que mais gostei - e porque não quis perder muito tempo à procura, verdade seja dita. Vejo agora que só o trocaria por outro, muito parecido: Dona Vida.

Estou cansado, mas é um cansaço límpido, honesto, daqueles que se resolvem com uma boa noite de sono. Que venham muitos assim. Até amanhã. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.