9.11.20

Horizonte, liberdade

Questão de transcendência, sem dúvida. Tudo o que está para além de. Como se a vida fosse um filme de Tarkovski: anda-se, não se sabe porquê, para quê, por onde, para onde mas sabe-se que andar é preciso, não se pode parar, o horizonte não espera por ti. Espreme-o: sai liberdade. É o sangue, o combustível, o que o faz respirar. 

Talvez seja ao contrário: o horizonte move-se e tu vais atrás. Tu imagina-lo fixo, entre o mar e o céu mas ele move-se, puxa por ti, leva-te atrás dele. Ele é a tua liberdade. Espreme-o: saem sonhos, sombras passadas, futuros multicromáticos com a forma de um ponto de interrogação desenhado por uma criança de seis anos. 

Pregaram-te a uma cruz. Avança, desprega-te, escolhe outra, avança, sobe, desce, avança com a mão sobre os olhos, os ouvidos, a boca. Não fales, não oiças, não vejas. Liberdade, horizonte, um grande terreno juncado de destroços, ruínas, desolação, raios de sol, flores, frágeis e enganadores eflúvios, beleza. A mistura surpreende-te?

Claro que não. Avança. O filme está quase a acabar.

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