O melhor é apagar a luz e esperar tranquilamente que o dia chegue, carregado de vinho, nozes e figos, um dia mediterrânico, dia ventre do mundo, berço da civilização, dia de palavras auto-sustentadas, palavras de andaimes interiores, de mares traço de união, mares súbitos, repentinos, inesperados.
Esse dia chegará. Basta apagares a luz e esperar. Tudo acontece quando a brisa de um mar longínquo te chega à noite.
Falta-te uma noite no mar. O movimento de um casco, o suspiro satisfeito e saciado do corpo que deixaste no camarote para entrares de quarto, a Lua demasiado irrequieta para te indicar o caminho, o café que te aquece os dedos e o desejo. Nada ver senão por vezes os clarões do verde e do encarnado, o branco esganiçado dos panos, a conversa da proa com as vagas, o adeus líquido da esteira, o negro, agora que a Lua se pôs nas bandas do Oeste. Não tarda o dia, mas tu preferias que ele não viesse já: queres ouvir o que não vês, ser parte integrante dos diálogos, queres não-ver, simplesmente. O que não se vê lá fora desenha-se claramente cá dentro. Os teus olhos abrem-se, do tamanho do mundo.
É noite, não vês nada e nada te vê. Excepto tu a ti, o mar o casco, o vento o pano: é a melhor conversa do mundo, antes da luz chegar.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.