Descobri já muito perto dos sessenta o prazer do sono (não digo da cama para evitar duplos sentidos, mas é a esse que me refiro, o de estar na cama a ler, a coscuvilhar o Facebook ou simplesmente a receber o calor dos edredons), da languidão e agora entrego-me a ele com o fervor dos recém-convertidos. Ao contrário do que sempre pensei, quando se está na cama o tempo não pára nem se perde. Quando muito, torna-se um bocadinho mais sinuoso, mais meândrico, grande rio tranquilo dos meus sonhos. Deixo-me levar, enredar pelo calor, penso em quem gostaria de ter so meu lado ou, pelo contrário, quão bom é não ter ninguém. (Quem não sabe estar sozinho é incapaz de acompanhar. Estar acompanhado não é o antónimo de estar sozinho, é o seu complemento directo.)
A noite é uma ponte na qual é bom perdermo-nos. Amanhã tenho que fazer e hoje também: dormir, abrir docemente a porta às tarefas que me esperam pacientes, sonhar.
Como é que consegui durante tanto tempo pensar que isso tudo era perder tempo? Não é. É construir os alicerces do dia seguinte, pôr-lhes uma plataforma em cima.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.