26.1.21

Convés, beliche

 Em França, as pessoas que nós designamos "sem abrigo" são "SDF" (sem domicílio fixo). Hoje, jantando os nachos do 7 Machos (uma merda, pela primeiríssima vez) sentado num banco de jardim, percebi a diferença. Sou um SDF, mas não um sem abrigo.

Fumei um maço de cigarros em três dias e estou enjoado. A regulamentação mudou: agora pode-se fumar na rua, desde que se esteja parado. Isto é literalmente vertiginoso. A rapariga do Aquanauta - uma tasca onde nunca pus os pés antes e nunca porei depois - diz-me que não posso fumar à janela, enquanto espero o rum e o café ("o fumo entra"). Não tenho a certeza de que seja o excesso de cigarros que me enjoa.

Bebo-os num banco na rua. A seguir vou para bordo. O meu domicílio nunca será fixo, mas terei sempre um convés por cima e um beliche por baixo.

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A mínima vai baixar, essta noite. Pus mais um cobertor entre mim e o convés. É um erro: acordar com frio é mais fácil do que debaixo de uma torre Eiffel de mantas, mas pouco importa. Nâo quero que as personagens dos meus sonhos apanhem frio e se constipem.

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