Caro leitor: se estás à espera de que eu venha aqui dialogar contigo, desengana-te já. Não escrevo para dialogar com ninguém, com a possível excepção de mim próprio. Pôr-me a falar comigo. Mas mesmo isso é excepcional (no sentido de que acontece raramente). Escrever não é dialogar. Raio de mania esta dos "diálogos", do "ouvir o outro"... Não escrevo nem para me ouvir a mim, quanto mais a ti. A pergunta é sempre a mesma: escreveria, numa ilha deserta? E a minha resposta também: sim, pela razão simples de que não sei não escrever. (Já agora: o que escreveria, nessa ilha deserta?) Sei, porém, não ouvir, sei não falar, sei que não sou parte do teu mundo, do teu "diálogo". Como se eu ou alguém pudesse engolir o que acabou de se vomitar.
Queres dialogar? Vai à igreja e confessa-te, ou aos programas de televisão onde toda a gente fala muito e ri e grita. Inscreve-te num site de encontros. Vai para os escuteirinhos. Entra numa ONG daquelas que dão comida aos sem-abrigo ou roupa aos pretinhos. Mas não pegues neste livro. Aqui não encontrarás diálogo, ninguém para te ouvir se quiseres falar.
Lê e cala-te. Lê e pensa. Lê e lembra-te. Lê e imagina. Lê e chora, ou ri-te ou emociona-te. Lê. O resto é "diálogo". Nem para encher chouriço serve.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.