Ler uma coisa bem escrita - clara, concisa, coerente, incisiva (cortante, para manter a inicial) - e sarcástica na justa proporção é um dos grandes prazeres desta vida tristonha, monótona e agora confinada.
A ordenação lógica do pensamento reflecte-se numa escrita fluida, escorreita, sem curvas a mais mas com elas onde devem estar. (Não quero com isto dizer que - por exemplo - Hegel não ordenasse logicamente o seu pensamento, mas isto não é um tratado de filosofia e isso fica para depois.)
Um sarcasmo bonito e bem exposto está para a literatura como um bisturi para os instrumentos de cortar ou como um Wally para as embarcações de vela. A incapacidade de o apreciar (ou à sua prima bem educada, a ironia) revela uma deficiência emocional grave: não se pode confiar em quem não aprecie uma incisão limpa, milimétrica, daquelas que nem sangrar faz.
Viva o sarcasmo, as mentes que o formam e as mãos que lhe dão vida.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.