A minha Mãe fazia isto muitas vezes. «Hoje é dia de restos», anunciava. Por vezes convidava-se um ou outro amigo mais próximo; outras, aparecia alguém impromptu para jantar. Era sempre uma festa: revisitavam-se os pratos de que mais gostáramos durante a semana, evitavam-se - com uma boa desculpa - aqueles que nos atraíram menos. Na Marinha Mercante é (ou pelo menos era) um «prato» frequente aos domingos. Chamava-se Roupa velha e consistia numa mistura dos restos da semana envolvidos em ovo, disfarçados com tomate. Na Suíça é um insulto convidar alguém para os restos. Fazia-o frequentemente, para... - para quê? Para chatear? Para mostrar que «eu não sou daqui»? Para... - Nada disso. Simplesmente porque para mim é uma forma de me aproximar das pessoas que me são queridas, de me dar informalmente, de lhes «revelar» um pouco do que foi a semana, como num caleidoscópio se vê melhor a imagem, dividida em pequenos sectores.
Hoje vêm convivas que conheço há muito e uma que não conheço de todo. Vamos ver como funciona a mágica. Porque é disso que se trata: mágica, alquimia, muito mais do que química, termo que é mais utilizado. Química é uma ciência exacta, senhores. A alquimia e a hospitalidade não.
Enfim, há pelo menos um argumento importante: em Genebra trabalho melhor, sou mais produtivo. Não sei porquê - nem procuro saber - mas sou. Com a quantidade de bolas que tenho no ar, isto pesa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.