28.6.21

Diário de Bordos - Estellencs, Deià, Soller, Mallorca, Baleares, 26 e 27-06-2021

A «praia» ficou silenciosa e transparente como a água. Preparo-me para a longa subida até quase à aldeia. «Estupidamente», deixei o carro lá em cima, pensando que a cala estaria cheia a abarrotar. Não estava. Andar faz bem, fiz um excelente teste à minha anca direita e vou fazer um esforço, o que sempre é melhor do que sentar-me estupidamente - sem aspas - ao volante de uma poltrona motorizada. (Isto é irónico. O carro está uma porcaria sem fim.)

........
Não sou de turismos, não gosto de praia. Hoje o dia foi duplamente contraditório: vim a uma praia "a sério" (isto é, daquelas que têm areia) e estou a fazer turismo. Bem sei que pouca gente concordaria com este tipo de turismo, mas é o meu e se não fosse terem ligado a maldita televisão - ainda por cima em alemão e a passar futebol - até nem me poderia queixar. Os cafés não deviam ter televisões, mas a tê-las deviam distribuir aquelas coisas que dão nos museus para se ouvir os guias.

Soller é um porto bonito. Venho cá muitas vezes com clientes, sozinho... até já vim com namoradas, situação à qual o lugar se adequa, com o seu aspecto de ninho romântico aberto a folias. Contudo, esta conjunção de televisão, futebol e holandeses estraga tudo. Consegui uma mesa longe da besta, ao menos isso.

É a primeira vez que passo tanto tempo aqui sozinho. A julgar pelo leque etário - vai dos carrinhos de bebés às cadeiras de rodas - isto deve ser uma estância «todas as idades», ou «familiares», ou seja lá o nome que os técnicos lhe dão. Gosto desta mistura, parece uma cidade normal, em vez daqueles sítios aonde um tipo chega e só vê hooligans de trinta anos a beber e hooliganas da mesma idade a tentarem ser levadas para a cama rapidamente, se possível antes de os homens disponíveis estarem todos bêbedos.

O lugar está calmo, mas não vazio. Estamos em Junho e de Covid. Penso perguntar à jovem empregada, uma alemã jovem, gira e com uma expressão inteligente espalhada por toda a cara mas acabo por não o fazer: um casal de franceses ao meu lado mete conversa comigo a dali a pouco está a pedir-me conselhos sobre sítios a visitar na ilha. Acedo com gosto, a pergunta sobre a ocupação fica relegada e venho-me embora a pensar que lhes devia ter sugerido visitarem Deià e Valldemossa. Paciência, fica para a próxima.

De vez em quando - raramente - passa um idiota mascarado. Normalmente são jovens e mulheres. às vezes tenho um lampejo, a sombra de um impulso e penso em gritar-lhes «la masquerilla», como me gritavam a mim quando era obrigatória na rua (e ainda gritam nas lojas, se bem cada vez menos).

........
Ser livre pode não ter um grande poder atractivo em termos de quantidade, mas em qualidade tem de certeza.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.