24.6.21

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 24-06-2021 / II,

O Big Foot é um bar relativamente feio e barulhento mas tem a vantagem de me servir depois das horas, como se estivesse num Speakeasy ou numa loja de ópio de Shangai. As mulheres são feias, bonitas, gordas, magras, mal vestidas e bem (há pouco entrou uma com uma Leica ao ombro). Os homens são feios, gordos, jovens, magros, bonitos. A única coisa que toda esta gente tem em comum é a banalidade.

Bebo um rum com sumo de laranja e hesito no seguimento. Ouvir o meu Pai ("deve-se sempre beber um número par de bebidas, sob pena de se voltar coxo para casa") ou dar ouvidos ao pâncreas, ao médico, ao bom senso e à namorada (se aqui estivesse)? Opto por um compromisso e encomendo um rum simples com uma rodela de lima. Pelo menos poupo o pâncreas. 

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Sentei-me em cima do meu chapéu Panamá, o qual já tem as marcas (muitas e uniformes) de uma chuvada de pó do Sahara aqui há uns dias.

Gosto de ver coisas usadas mas não negligenciadas. Espero que estas interacções resultem esteticamente aceitáveis.

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Uma das coisas que admiro nas pessoas pró-Covid é a hospitalidade que dispensam ao medo. Para mim, o medo é mal vindo. Não o consigo evitar, mas não gosto dele, não o quero, é como aquelas visitas chatas que não se vão embora e nos contam todos os seus problemas de saúde e de família. 

Elas não: acolhem-no de braços abertos, dão-lhe de comer e de beber, convidam-no para dormir e ainda lhe ajeitam os cobertores.

Claro que tudo isto evoca uma pergunta: se ao longo da minha vida eu tivesse tido mais medo: estaria melhor agora? 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.