28.6.21

Vertigens

Se eu um dia morrer - é pouco provável, mas nunca se sabe - espero vivamente que alguns dos dias que vivi tenham a mesma função encantantória que a canção de Mercedes Sosa (creio) chamada Gracias a la vida. 

Não é só a la vida que tenho de agradecer, é certo. É também à S., a minha ex-mulher e presente amiga, mãe dos meus filhos e fonte de tudo o que um homem procura numa mulher; à R., mulher que não o sabe mas é de sempre e para sempre; à H. que me fez descobrir o amor e quem sou; à T., que me provocou a mais longa e profunda depressão de que fui vítima - não há melhor nem mais eficaz espelho -; ao ACNUR, que me fez viver o ano mais intenso, em todos os sentidos, da minha vida; e agora a M., que me confiou o projecto mais complexo, mais fodido (passe a expressão, não tenho outra equivalente na aljava), mais torcido, mais tudo o que há de menos linear da minha vida de mar. Parece os «resumo da matéria dada» da minha adolescência. O M. R. fez-me ver e viver tudo o que a amizade tem de bom e de mau e é bom saber que aquele é muito mais do que este. A J. M. V. fez-me publicar um livro: também a ela lhe devo muito. Muito mais do que o livro, de resto.

Se eu morrer - é pouco provável, eu sei - posso dizer obrigado aos meus filhos T. e H., ao meu P., tão reticente, a uma quantidade enorme de pessoas, coisas e situações. Posso, sobretudo, dizer obrigado à vida que não só me acolheu, mas recebeu de braços e coração abertos.

Deve ser disto que a vida de um homem é feita: Everestes e fossas das Marianas uns a seguir aos outros, montanhas russas vertiginosas, vertigens. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.