24.8.21

Diário de Bordos - Cala Covas, Menorca, Baleares, Espanha, 24-08-2021

Pus a máquina a trabalhar para carregar as baterias. (Abro aqui um parêntesis dedicado aos meus amigos maquinistas da marinha mercante: a máquina é de costura, eu sei. Mas é o que há e não haveria lugar para mais. Mesmo assim faz demasiado barulho. Fecha parêntesis.) Nas Baleares no Verão noventa por cento da navegação é a motor. Os outros dez por cento são abençoados, como a hora e meia de largo de hoje de manhã. O bote é uma desgraça, os panos mais parecem trapos (e a grande é de enrolar) e mesmo assim viemos até cala Covas a sete / oito nós,  com 15 nós de vento e mar chão. Nas Caraíbas a proporção inverte-se, mas se se quer mar de senhoras não há vento: a sota das ilhas não há sombra de alísios. São dez e quase meia da noite e a frota dos bárbaros do dia já foi embora há muito tempo. Daqui a dez minutos apago a maquininha e a calma voltará. 

[Não foram dez. Foram zero. Farto do barulho.]

Somos uma dúzia de botes a passar aqui a noite, dos quais só uma pequena minoria passou um cabo a terra. Tinha um preparado, decidi que não precisaria dele mas quando o ia buscar apareceu um cata e propus-lhes o cabo. Aceitaram e como agradecimento o senhor (é um casal) veio trazer-me uma garrafa de vinho. Português, de Setúbal e nada mau. Vinha da não sei quantos, fica para depois.

O barulho das hordas do dia é-me insuportável. A boçalidade, já aqui algures a mencionei, é uma praga; mas não é específica dos tempos presentes. Aposto que os velhos da Idade da Pedra desprezavam os jovens que utilizavam o bronze. O conservadorismo não só é inato, mas também se acentua com a idade. (Isto dito, não passam de um bando de selvagens sem sombra de gosto, decência ou educação.)

O harém provocou tudo o que a cala tinha de machos jovens e acabou num cata de franceses. E ainda há quem não goste dos francos! Estou-lhes mais grato do que um tóxicomano ao dealer que lhe traz a dose da manhã.

Já o estado em que me deixaram o PAMPERO é desolador. Oito advogadas de vinte e sete anos, colegas de escola, barulhentas, guinchonas, provocadoras, incultas, desarrumadas e negligentes com a loiça e a limpeza. Amanhã sai ordem de arrumação: só saio daqui com o bote limpo. Não sou o skipper indicado para esta faixa etária, nada a fazer.


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