Estas casas pequenas, baixinhas, parece que encolheram com a chuva ou que foram esmagadas pelo «capacete açoreano». À noite as ruas estão iluminadas pelas decorações de Natal, bem bonitas. E desertas, frias, ventosas. Tenho de inventar uma escala de Beaufort para o chapéu. Será simples porque só terá três forças. Zero: posso usar o chapéu à vontade e sem quaisquer restrições; um: tenho de o enterrar bem enterrado na cabeça e estar atento; dois: devo levá-lo na mão. Hoje oscilou entre força um e dois.
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Passeio-me por estas ruas como se nunca cá tivesse vivido. De repente a moeda cai e apercebo-me de que nunca vivi nesta cidade. Vivi no seu porto, o que é bem diferente.
Todos nós chegamos a um ponto em que descobrimos que nos enganámos. Os que têm mais sorte ou mas perspicácia são mesmo capazes de definir onde, quando, como e porque isso aconteceu. Ou melhor: os ondes, quandos, comos e porquês - são sempre muitos, não são? Infelizmente esse ponto (esses pontos) chegam sempre tarde de mais. Temos de viver não só com, mas no erro, como se este fosse uma piscina na qual nadamos, pela última vez, os cem metros livres. Como se fôssemos mais uma encarnação desse erros ou desses erros. Não somos. Sim, somos. A vida é como as regatas oceânicas, que são ganhas não pelo melhor mas por aquele que comete menos erros. Ao fim de muitas regatas, o melhor e o que cometeu menos erros são o mesmo, é certo, mas o padrão é sempre o erro. O padrão contra o qual vais aferir a tua vida é o erro, meu caro, a quantidade e qualidade deles. (O problema sendo que regatas há muitas e vidas há só uma, mas isso faz parte da piscina.)
Pergunto-me se uma viagem aos Açores é, como era antigamente, uma viagem no tempo. Creio que sim. Espero que sim.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.