29.12.21

O circo desceu à cidade

O circo chegou à cidade e não há maneira de se ir embora. Começou na China faz agora dois anos. Uma província rebelde, um governo central a querer mostrar quem corta o bacalhau, uma imprensa às ordens. Este foi o ponto de partida da caravana. Dali, foi para Itália. A imprensa chinesa foi substituída pelos media ocidentais. Já não por dependência dos governos mas por simples e banais questões de tesouraria os jornalistas pegaram naquilo e usaram o arsenal todo: mentiras, omissões, exageros, distorções, fotografias falsas. Nada de novo, excepto que desta vez usaram o arsenal inteiro ao mesmo tempo. Não ficou uma arma, uma que fosse, em armazém. O pânico - o maior auxiliar de finanças da imprensa desde sempre (afinal, foi para noticiar invasões, inundações e outras desgraças que os jornais nasceram) instalou-se e propagou-se como chamas em pradaria seca. Instados a escolher entre meia dúzia de especialistas que diziam que as coisas não eram assim tão más e multidões histéricas os governos não hesitaram dois segundos, claro. Quem vota são as multidões. A escolha não chega sequer a sê-lo.

O circo já está bem avançado: temos a tenda, temos os músicos, temos os espectadores, temos os apresentadores a fingir que são eles que mandam quando tudo o que fazem é seguir os outros todos. Entram os palhaços: «especialistas» (desta vez com aspas) que se deixam inebriar com os holofotes, com aquele ruído todo, com os cavalinhos a dar voltas à pista. Têm todo o interesse - nalguns casos, tangível; noutros, intangível mas não menos real - para que o circo cresça e para isso contribuem com afã.

Já só falta a malta da caixa. Esta começou por ficar surpreendida com tanto maná, tão súbito e inesperado. Não há máscaras, não há testes, não há vacinas... Que fazer? A resposta é fácil: fazer isso tudo. E hey, presto, de repente eis que aparece uma parafernália para nos «defendermos». Ninguém consegue parar o circo. Muito menos, claro, os especialistas do início, os que tentaram resistir à avalanche de pânico. Alguns cederam-lhe, outros afastaram-se, simplesmente. Ficou uma pequena minoria a clamar no deserto.

Entretanto, a avalanche segue o seu caminho. Alguns governos começam a ver que aquilo é muito bonito, espectacular e tudo mas que se arriscam a perder votos quando a conta chegar. Outros, mais responsáveis, desidiram mesmo parar com a palhaçada, apesar dos riscos eleitorais (estes ganharam a aposta, mas ainda são poucos, infelizmente). Alguns dos palhaços cansam-se. Os espectadores começam a fartar-se do espectáculo, que acham pouco variado. Pouco a pouco, muito devagar - excruciantemente devagar, para quem não gosta de palhaçadas - o circo começa a fazer as malas e a preparar-se para sair da cidade. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.