A burguesia é simultaneamente o melhor e o pior que as sociedades humanas produziram até hoje. Só vive numa sociedade sem burguesia quem não pode fugir para as que a têm. E destas só os burgueses - ou quem o quer ser - foge para as outras.
No meio está a virtude? Bênção e maldição, simultaneamente. Blake dizia que a estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. Só é verdade se se pensar que excesso e erro são sinónimos - são, para a burguesia. Entalada entre a aristocracia e a grei (deixemos clero e militares de lado), a burguesia oscila permanentemente entre o desejo e o risco do excesso - que é a marca das sociedades sem burgueses.
A burguesia não é o cemitério de ideias, paixões e cautelas que imaginam artistas, intelectuais (que de resto nela nasceram) e aristocratas (ou aquilo que hoje os substitui). Ou melhor: é isso mas não é só isso. Um burguês é a mistura de um aristocrata capado e de um homem do povo que aprendeu a ler, escrever e comer de garfo e faça. É desse encontro de poder cerceado e educado que nasce a civilização.
Civilização essa que permite excessos - e os transforma em virtudes.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.