19.4.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 19-04-2022

Já fiz secretos em casa e até gostei. Hoje como-os no Cisco e penso a) não devia dizer que cozinhei secretos e b) menos ainda que gostei deles. 

Cisco tem uma loja no Mercat de l'Olivar. É uma loja grande, onde numa metade ele vende produtos e na outra serve-os feitos (as metades são desiguais). Os secretos (e muitos mais) fogem à regra do "só posso servir o que vendo". Não entro em pormenores. No Mediterrâneo estes são labirínticos e o risco de um homem se perder neles é grande, por muito prevenido que vá. Limito-me portanto a apreciar o vermut del grifo e o vinho tinto, respectivamente antes e durante os supra-mencionados secretos. Por mais que faça nunca hei-de compreender o Islão. (Tão pouco me dou ao trabalho.) Os judeus também não comem porco mas pelo menos bebem vinho e eu gosto deles. Não comem marisco. Não comem nada que venha do mar e não tenha escamas. Estou-me nas tintas. Os caprichos dos deuses não passam disso mesmo: caprichos. Só se lhes verga quem quer. Eu não quero: nem aos meus obedeço, quanto mais aos de um gajo que muito provavelmente nem existe, nunca existiu e não existirá tão cedo. Só não percebo é a mente tortuosa que inventou esses interditos todos. Mentes: foram muitas.
São três da tarde, o mercado já fechou, mas o Cisco diz-me que não há pressa. Termino tranquilamente o tinto de que me servi e penso que sou o ansioso mais estúpido do mundo. Ou o estúpido mais ansioso do mundo.


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