O dia cai. As luzes da noite misturam-se com as do dia; os sons de um e outra fazem o mesmo (um saxofone no canto do Bornéu mai-los autocarros, automóveis, motas e ruídos anexos). Já não é dia e ainda não é noite. A minha hora favorita. Dantes, quando ainda bebia a bordo e se podia navegar em solitário, a esta hora sentava-me no poço, a olhar para ré, whisky na mão. Era a minha hora mágica. Hoje isso acabou - a bebida e a navegação sozinho - mas a hora continua a minha preferida. Mais do que o seu equivalente matinal apesar de esse também ter os seus prazeres (por exemplo, começar a descascar a última camada de roupa para a noite).
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Saio da Babel com dois livros. A minha admiração pelo J. cresceu mais uns pontos: estava com uma antologia do Goytisolo na mão - trinta euros - e ele insistiu para que levasse a Olvido García Valdés, dezasseis. Estou-lhe duplamente agradecido: pelos quatorze euros que me fez poupar e pela descoberta de uma poetisa extraordinária. Descoberta - choque, diria um francês (se falasse português). A senhora tem um vastíssimo de imagens e de referências e ao mesmo tempo tem uma poesia extraordinariamente profunda, como se lavrasse um campo enorme com um bisturi.
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Última ceia no Jaume. Nem vale a pena começar a descrever: o sublime dispensa comentários.
Este texto TEM DE ser publicado. M. M.
ResponderEliminarInseri na publicação errada... O mais recente, claro está.
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