Os milagres pagam-se caro. Quanto maiores ou mais inesperados são mais se fazem pagar. O marinheiro prudente (isto é simultaneamente um oxímoro e uma ironia) tem com o dinheiro a relação que a Lua tem com as marés: ora o atrai ora o repele. São é mais irregulares, as marés financeiras do marinheiro. Por isso - também por isso - ele desconfia dos milagres.
Os quais, obra quase sempre de um mafarrico ou de um deus travestido, inventam outras formas de ser pagos. O de hoje - estou a quinze milhas (três quartos de hora) do porto onde vão instalar o piloto, ou seja: um dia e meio mais cedo do que o previsto - faz-se pagar com uma dor nas costas que só não me impede de respirar porque sou teimoso. De resto, tudo o que implique um movimento, mínimo que seja, está-me vedado. Ou pelo menos implica dores atrozes nas lombares.
Fui à farmácia comprar um analgésico. Aparentemente, o uso do amuleto facial «nos estabelecimentos de saúde» continua a ser obrigatório, o que me valeu uma breve troca de palavras com a farmacêutica e que ela não considerasse sequer a possibilidade de me dar qualquer coisa que necessitasse de receita médica (o que me faz sentir um bocadinho estúpido, pois tenho um médico a bordo. Está é reformado).
Uma coisa que já tinha reparado ontem: aqui a única língua que se ouve na rua é espanhol (e por vezes valenciano, uma variante do catalão). Os menus não têm quarenta e duas línguas e salvo raras excepções as pessoas dirigem-se a mim em espanhol. Os restaurantes são baratos.
Explicação: há pouquíssimos hotéis em Santa Pola. A maioria dos clientes das inúmeras empresas de day charter, motas de água, foras-de-borda «sem carta» são pessoas que ou têm casa aqui ou se juntam para alugar uma para as férias.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.