Porém, o Facebook devia ter afixada uma lista das palavras que não se podem usar, uma espécie de Index Verba Prohibitorum. Assim não haveria surpresas. Quando muito, desobediências.
Isto dito, talvez não seja um exercício fútil pensar numa coisa: é óbvio que este clima de intolerância, de censura, de «inclusão», de «ofensa» permanente que estamos a viver não foi criado pelo FB. Este limita-se a respirar o ar do tempo, não o fabrica. Contudo, ao participar nele com tanto zelo ajuda a criar um mundo binário - de um lado os wokes, do outro os rebeldes, os independentes, solitários que se vêem assim excluídos da praça pública (não tenhamos ilusões - o FB é simultaneamente a praça pública, a taberna da esquina, o Speaker's Corner e a página de opinião dos jornais. Se estivesse atento à suas «responsabilidades sociais» o FB lutaria contra a censura e contra a intolerância, não as fomentaria).
Há uma doce ironia neste castigo - deve haver poucas pessoas por esse mundo fora a quem a sexualidade de cada um seja mais indiferente do que a mim. Cada um leva onde quer e dá onde pode, é a elegante e sofisticada máxima que há já muitos anos cunhei para exprimir a minha posição a esse respeito. Os únicos seres vivos que excluo deste «cada um» são as crianças e - em alguns casos - os deficientes mentais. De resto, acho que os outros não têm de se intrometer no que cada um faz de si e de quem quer fazê-lo consigo. É, ou devia ser, território proibido, fechado a «pessoas não autorizadas». O meu uso do termo «paneleirice» não tem nada a ver com o facto de eu pensar que só os maricas acreditam nas «alterações climáticas». Paneleirice, mariquice têm outros sentidos para além do primeiro (que já «panasquice» por exemplo não tem). Outras - ouso dizê-lo - denotações. Limitar a quantidade de palavras que podemos usar é mau - se bem tenha, como vimos, algumas atenuantes, em casos bastante precisos, em lugares privados. Limitar-lhes os sentidos é pior. Agir como se cada palavra tivesse um e um só significado é uma limitação não só da liberdade de expressão mas também daquilo que faz dos homens homens: a capacidade de abstrair, de imaginar, de figurar.
O Facebook não devia ser uma peça mais no rolo compressor que está a fazer da modernidade um sistema digital: quem passou debaixo do cilindro está bem, quem não se deixou esmagar vai para as beiras da estrada, rodeado de arame farpado. O Facebook não devia censurar. É um lugar público muito mais do que uma empresa privada.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.