2.7.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 02-07-2022

Por favor: não digam a ninguém que em vez de ir dormir a sesta vim beber gins tónicos ao bar Cuba. É um triplo pecado mortal, um triplo salto mortal: não dormi a sesta, vim beber gins tónicos bem feitos e - este sim, é o umbigo do inferno - parei aqui para ter ar condicionado, bom serviço e um bar quase vazio.  Estas três condições encontram-se facilmente em combinações de duas. Juntas são poucos os sítios e a verdade é que estava a passar-lhe à frente (o guiador da bicicleta desviou-se um bocadinho para a direita, mas isso foi ele, não eu) e a ideia de me meter no forno que é o meu P. à tarde tirou-me o sono pelas próximas quarenta sestas. O bar Cuba é um sítio de yachties, um patamar acima dos yachties do Corner Bar. Aqui só vêm os que não precisam de procurar trabalhos e já gastaram o que tinham a gastar em cocaína. É raríssimo cá vir. Espero vivamente que o preconceito que tenho contra este lugar não se deixe vencer pelo bem que agora aqui me sinto.
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Os clientes são simpatiquíssimos, como o J. me havia dito. Um casal de marroquinos penso que relativamente jovem (pelo menos ela. Deve ser mais nova do que a minha filha). Mandei-os passear para a Tramuntana, isto hoje não estava para saídas. Amanhã levo-os a Es Trenc, segunda a San Telmo, terça de manhã ficamo-nos por Ses Isletes e terça à tarde vão-se embora. Acredito piamente que há trabalhos melhores do que o meu, mas que assim de repente me ocorra, só num bordel, onde eu não trabalharia nem por metade do ouro do mundo. Querem discutir? Dêem-me a outra metade e discutimos. 

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Almocei no Daruma, no mercado. O gajo antecipou a inflação que está para vir. Enquanto me lembrar disto, fico-me pelos vermutes, que aumentaram pouco. Verdade que o polvo à galega continua um dos melhores de Palma. Infelizmente, tenho horror a oportunistas, mesmo que depois me suscitem vontade de vir ao bar Cuba beber gins tónicos como se não houvesse amanhã ou clientes (esperemos que sejam a mesma coisa).

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Enfim, seja como for já é hora de enfrentar o mundo exterior. Um gin para o caminho e vamos, a burra e eu nela montado. A bordo do meu P. tenho algum trabalho (arrumação, nada de sério), o que justifica um gin para o caminho. Saideira, chama-lhe no Brasil. Doula, chamar-lhe-ia eu aqui, se pudesse. Uma coisa é certa: aprendi a beber um número ímpar de bebidas, desobedecendo assim aos conselhos do meu Pai. Emancipação, é o que é. 

Como será esta vida, quando já não tiver esta vida?

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.