17.7.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 17-07-2022 / 2 (Ironia e outras coisas)

Pergunto-me se a relação complicada e tortuosa que os portugueses mantêm com a ironia não será consequência de sermos um povo triste e teso (isto assumindo que há uma relação entre portugueses e ironia, coisa que é pelo menos incerta). Pode argumentar-se que a ironia serve precisamente para enfrentar com elegância a tristeza e a falta de chuva. Sem dúvida. Porém, também a elegância não é apanágio dos tristes, dos respeitosos e muito menos dos invejosos. QED. Um povo que num segundo mandato dá a maioria absoluta a António Costa não merece a ironia.

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Acabei finalmente por recuperar o chapéu. Não consigo perceber como consigo deixar em todo o lado coisas de que gosto tanto,  nem como me ligo a coisas que sei vou perder, mais cedo ou mais tarde; e muito menos como me desapego tão depressa delas, uma vez perdidas. Refiro-me às coisas.

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Reparei a fuga de água que me impefia de tomar duche a bordo do P., provando assim que a) continuo com a graça e a agilidade elefantescas que sempre foram as minhas, b) cada vez tenho menos idade para isto e c) o P. vai mesmo precisar de trabalho a sério, ainda. Ai contrário do que queria, as cavernas não estão todas ligadas por boeiros e vai ser preciso ligá-las. Sabia que faltariam talvez uma ou duas,  mas como sempre no embate entre a realidade e o meu optimismo esta sai perdedor. Vasos comunicantes, caro. Deixa só começar a chover. Acessoriamente: para quando a beatificação da marca Kärcher, senhor papa Franciscos?

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O Corte Inglês não tem a marca de óculos que quero. Como sou teimoso, vou esperar pela resposta ao e-mail que lhes enviei a perguntar se e onde têm lojas físicas. A única coisa que compro antes de ver são livros.

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Entre o RCNP, onde está o P. e a praça de Espanha, onde fui esperar o  chapéu, fiz uma espécie de via sacra e parei em muitas capelinhas. A última sendo o La Rosa. Não me lembro de quando aquilo deixou de ser uma vermuteria porreira e passou a ser um lugar onde para entrar há que fazer bicha, pedir a assistência do supra-mencionado papa e sei lá que mais. O remédio para evitar tudo isso sendo ir cedo. As bravas são uma simples maravilha. O resto todo também, mas hoje fiquei-me pelas batatas - e não consegui acabá-las, com grande pena minha.

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