Li recentemente que o equivalente árabe - ou chinês? - do nosso «Era uma vez» é «Isto foi assim e não foi assim». É uma questão que ressalta muitas vezes no que escrevo: «Nada disto aconteceu». Ou: «Isto não aconteceu assim». Como é aquele dito, tantas vezes erradamente atribuído a Hemingway (é de Blake)? Tudo o que é possível é uma imagem da verdade? Tudo o que é possível de ser acreditado é uma imagem da verdade? É assim, mas a tradução está péssima. «Tudo aquilo em que se pode acreditar...» está errado. «Tudo aquilo em que se pode acreditar é uma imagem da verdade» Não. O original diz: «Everthing possible to be believed is an image of the truth.» Tudo aquilo passível de ser acreditado é uma imagem da verdade. O que transforma qualquer coisa numa verdade somos nós. Para um terraplanista, a Terra é plana. Para um político, a Covid foi uma catástrofe e só não foi pior graças à sua intervenção iluminada. Claro que tudo isto leva a dúvidas: a Terra não é plana; se os políticos tivessem feito menos a Covid ter-se-ia espalhado e teria tido as mesmas consequêncis do que teve com as «medidas». Talvez a solução seja dizer que a verdade não existe enquanto tal mas deve ser um objectivo. Não há uma verdade estável? Há. A aceleração da gravidade é de nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado e desafio quem quer que seja a dizer que isto não é verdade. Não é: varia com o lugar e com a altitude. É possível acreditar que a aceleração da gravidade é de nove vírgula oito metros por segundo ao quadrado e isso faz daquilo uma verdade; e é igualmente possível acreditar que esse valor varia, o que é igualmente verdade. Paul Veyne escreveu um livro liminar sobre o tema, chamado Les Grecs ont-ils cru à leurs Mythes, onde fala dos diferentes tipos de crença e de verdade.
Não sou filósofo nem historiador: sou um marinheiro para quem a verdade é o que tem à frente dos olhos - se o vento está Norte não está Sul e se o mar está desencontrado não está chão; e por vezes um escritor, para quem a verdade é o que tem na mente. São duas verdades com as quais me dou bem e coabitam facilmente. O resto deixo aos filósofos e aos «especialistas».
Um dia, esta «pandemia» será mais estudada em ciências políticas do que em saúde pública.
(Nota bene: uso aspas em pandemia não porque duvide que o tenha sido, mas porque não sei se o foi. Não sei, no sentido literal e básico do termo: não sei se foi ou se não foi. Sei - e disso só tenho as dúvidas que qualquer saber exige - que não foi o cataclismo que as autoridades nos querem fazer crer que seria não fosse a sua (delas) intervenção assisada. Crença essa, de resto, para a qual contribuem os pobres que andam por aí de máscara acreditando que aquilo os protege da morte certa.)
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