Auto-exilado de mim próprio percorro as ruas da cidade. Não é uma cidade só: são muitas. E não é só hoje: é todos os dias. Visto de fora, sou como as cidades que percorro: bairros bonitos, outros feios, nalgumas há uma greve dos homens do lixo, noutras os jardineiros esmeraram-se. Há ruas de todos os tamanhos e feitios, umas largas outras estreitas, alcatroadas ou meros carreiros de areia, umas sem fim à vista outras sem saída. Em todas os semáforos foram regulados por um tipo meio bêbedo. Desconheço se é o mesmo para todas ou se todas escolheram um que se parece com os demais. Talvez haja características específicas necessárias para regular semáforos e por isso as cidades escolhem gajos iguais ou parecidos. Por vezes uma casa abre-me a porta e eu entro. Fico um bocadinho, mais ou menos longo e logo saio. Comecei muito cedo a vaguear pelas ruas sozinho e agora a vista de uma lareira, uma mesa de jantar, uma estante com livros, uma mulher deitada numa cama assusta-me. Volto ao frio, ao vento? Sim. Mas também ao sol, ao doce afago de um nascer do dia sem ninguém ao meu lado senão a perspectiva do dia. Os meus dias são compostos por uma sucessão de minutos, a minha vida por uma sucessão de dias. Não se iludam, porém: sei muito bem para onde vou. Só não sei como lá chegar, mas isso é outra história. O acaso encarregar-se-á de me lá levar. Entretanto, vou desenhando os mapas das cidades por onde passo. Podem sempre ser úteis para alguém. Ou para mim, quando este exílio for substituído pelo seguinte.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.