É preciso reconhecer, contraramente a tudo o que tenho vindo a escrever desde que iniciei este blogue, que sou um desenraizado e o serei sempre. Escrevo isto em vésperas de ter uma coisa pela qual anseio há anos: um apartamento em Lisboa (este, em prémio, vem com uma flor dentro); mas escrevo isto, também, em Palma, numa praça anódina, igual a milhares de outras por essa cidade fora. Resolvi experimentar um café que não conhecia e o resultado não foi brilhante. O vinho é bom, acabo de passar duas horas a ouvir um concerto com alunos de escolas de música - alguns francamente bons - penso que não tarda estarei nesse porto seguro que é o Bar Rita, bar que tem nome de amor antigo e irmã de sempre - e percebo que por mais que faça nunca deixarei de ser daqui, de Genebra, de dezenas de lugares onde vivi. (Vivi tem aqui o sentido de «viver», independentemente do tempo que neles passei.) A pertença, sobre a qual tanto escrevo e na qual tanto penso, é um fenómeno «complexo não-linear» que nada tem a ver com o tempo. Ou tem pouco, talvez. Não «sou de onde estou», é verdade. Tenho raízes. Mas levo-as comigo para onde quer que vá. Agora estou em Palma como poderia estar em Lisboa, em Mértola, em Genebra ou no mar. Não sou de onde estou, mas sou de onde posso ser. De onde as minhas raízes se sentem bem, seja isso onde for.
(Palma, 12-06-2021)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.