As alterações climáticas acabaram e as temperaturas voltam ao normal para a época: mínimas de cinco negativos, máximas de zero ou um positivo. Já não estou habituado a estes números e saio pouco. Verdade que esta mistura de depressão e ansiedade na qual vivo, provocada pela pavorosa e cruel espera que os funcionários públicos me impõem (não só a mim), contribui bastante para este imobilismo. Refugio-me numa mistura eclética de música sacra, experiências de cozinha e programas de comentários de política nacional: música pré-gregoriana, improvisação para um bolo, Camilo Lourenço e Observador. E café, claro. Muito. Encontrei uma loja de café em Annemasse que o tem bom e muito mais barato do que Genebra, o que não é difícil. Ou seja: o títylo deste post tanto podia ser «Dias tranquilos em Genebra» como «Dias tensos em Genebra». Ou «Dias intermináveis em Genebra». Salvam-se, claro, os dias de visita ao neto, alguns passeios e pouco mais.
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Penso muito no artigo que vou escrever a contar esta história. O mais importante - o mais difícil - é não lhe dar o aspecto de vingança. Evacuar a raiva antes. Pensar na New Yorker (excusez du peu). Não vai ser possível, claro, mas pelo menos deverei tentar.
Como descrever objectiva e friamente uma palhaçada?
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O resultado da experiência com o bolo não me parece famoso. Prolongo-lhe o tempo no forno, ver se pelo menos fica mais seco; e atiro-me a um livro, ver se o tempo passa mais depressa do que a música, que é encantadora mas paralisante. Isto é: move-se para dentro, para o fundo, como se o tempo tivesse feito um desvio de noventa graus para baixo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.