27.1.23

Não poder fazer mais nada

Estou a tentar arranjar uma forma de provar que é preciso ser-se fraco para se ganhar a batalha. Penso obviamente em Sun Tzu, mas sem o livro à mão dali não me vem ajuda. É um paradoxo, claro. O que quero dizer é que só os fortes se podem dar ao luxo de parecer fracos. Isto é: só os fortes sabem quando podem ser fracos. No mar temos muitas situações dessas. Num arraial de pouco serve fazer de Tarzan. Mais vale ser Jane. You Tarzan, me Jane. Oferecer a menor resistência possível ao mar. Ninguém luta contra um ciclone. On fait avec ce que l'on a. On fait le dos rond. O que é que fizeste? Bom, meti-me no beliche e dormi. Não podia fazer mais nada. Enrosquei-me tudo o que me era possível e dormi. Ou então: sentei-me e olhei pela janela. Não a abri sequer. Só olhei para fora. As árvores vergavam-se com o vento, as ruas inundavam-se com a chuva  e eu olhava, chávena de chocolate quente numa mão, croissant na outra. Puxei a cadeira, sentei-me e olhei. Não podia fazer mais nada. É preciso ser muito forte para se poder não poder fazer mais nada.

Assim se deve enfrentar os dias. Chocolate quente e croissant de manhã, vinho quente e bratwurst à noite. Entre os dois: nada. Olhar. Para dentro, para fora. Não se pode fazer mais nada. Excepto, talvez, escrever uma apologia do abulismo. E dormir enrolado em torno do vasto eixo do nothingness. Néant. Nada. 

Miragens, deserto. Para lhes resistir:  fechar os olhos. Fazer nada. Puxar os cobertores, tapar-se bem, aconchegar-se. Não pensar. Desligar os circuitos, como se se puxasse uma ficha. Não oferecer resistência às vagas. Fechar os olhos.  Não fazer mais nada. Repetir.

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