6.2.23

Lagos, Lua, linhas de nodos

«Assim em cada lago a Lua toda 
Brilha, porque alta vive.» (F. Pessoa / R. Reis, Odes)

Em cada pedaço de mim estou todo. Em cada célula minha há uma dupla hélice com os códigos todos para me refazer. Sou o lago de mim mesmo.

Profecias de balcão, dúvidas inconstantes, flutuantes, pedaços de madeira provenientes de cada naufrágio, cada mão, cada copo. Rodas em torno de ti num movimento eclíptico. Muitas órbitas, vários nodos e as linhas que os unem, planetas que se julgam livres. Pedaços de mundos, lixo espacial. A cada passagem pelo antinodo ressuscitas, suspiras e recomeças. Estás inteiro em cada pedaço de ti. As linhas de nodos das tuas vidas formam uma teia da qual não sabes, não queres, não sonhas escapar. 

Um planeta conseguiu enganar a lei da gravidade, libertar-se das teias, desaparecer no lago escuro que nos espera a todos? Um planeta a cavalo no tempo fugiu da estrebaria. Traz a Lua a reboque. Vai cair num lago. 

Esse lago és tu.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.