26.3.23

Bárbara, completa.

Ontem fui à livraria Poesia Incompleta ver os quadros da Bárbara Assis Pacheco. A livraria é muito mais do que o nome: é uma excelente e completíssima livraria especializada em poesia e merece todas as visitas que se lhe possam fazer.

A exposição poderia chamar-se «Bárbara a sonhar com leões». Infelizmente, este título tem por trás aquela carga sardónica da expressão «sonhar com ladrões» (de onde provem, de resto) e é pena: os sonhos são bons, poderosos, evocadores e dão-nos vontade de os comprar todos. Leões, piscinas e personagens femininas pintados nas cores plenas que é o estilo da pintora. Os meus conhecimentos teóricos de pintura são bastante reduzidos e não poderia dizer, mesmo que o quisesse, em que linhagem aquela obra se inscreve. Verdade seja dita, é-me indiferente: este é um daqueles casos em que «gostar muitíssimo» é insuficiente. Peca por defeito. Há várias coisas que me levam a gostar ou a não gostar de um quadro. A maestria técnica é uma delas. A história que conta outra. E a que não conta, a que está para lá do espectro visível. Creio que já aqui falei da exposição Bicharadona, em Montijo e do choque que senti ao entrar: no primeiro repente, a pintura da Bárbara parece infantil. Depois começa-se a olhar e vê-se que é tudo menos isso. É sofisticada, subtil e tem - como tudo o que é bom - vários níveis de leitura. Acorrei à Poesia Incompleta - a Bárbara não podia ter escolhido melhor lugar para expor estas obras, que são tudo menos incompletas. Como a livraria, de resto.

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