6.4.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 06-04-2023

Querido diário:

Ando a comer demasiados chocolates e doces. É como se quisesse compensar as dezenas de anos que passei sem tocar numa doçaria. Vou cortar e conto contigo para me ajudar. Como sabes, és o meu confidente para estas coisas importantes. Só a ti oiço, mais ninguém. Já agora, seria bom que me ajudasses a pôr ordem na carcaça, se não te custar muito. Hoje portou-se mal, logo desde manhã cedo. Conto contigo, querido diário. 

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Hoje vi o meu neto e dormi muito, duas coisas boas. Fiz as mesmas sestas que ele. Vi também como funciona o «teletrabalho» para uma jovem mãe com uma cria em casa. Posso estar enganado, mas não auguro muito futuro ao método. O mais provável é acontecer a mesma coisa que aconteceu nos anos noventa: meio mundo entusiasmado com a perspectiva de poder trabalhar em casa e em menos de dois anos ninguém falava no assunto.

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O suplício está quase a acabar. Quase? Esta maldita palavra não me larga. Devia ser banida, como fazem aqueles ingénuos que acreditam que mudando as palavras mudam o que lhes está subjacente.  Deixa de se dizer preto, ou maricas e o racismo desaparece e nunca mais ninguém goza com um gay. Deixa de se dizer quase e tudo acontecerá nos prazos. Eu, por exemplo, estou quase a ser feliz.

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Em Prangins fiz mais uma recolha de livros gratuitos: três na mercearia - aonde há sempre livros espantosamente bons - e um num «abrigo para livros» num jardim. Este último foi o La Cité de la Joie, de Dominique Lapierre. Lembro-me mal do livro, que li há muitos anos, mas achoque vai emparelhar bem com o Londres de Céline que comprei ontem na Recyclables. Quando conseguir ler de novo vai acontecer o mesmo que com os chocolates...

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