Regresso a «casa». As aspas são injustas: o P. é de novo a minha casa. A hora da partida aproxima-se, estou impaciente por levá-lo para outras paragens, os dias arrastam-se com saltos de obstáculos atrás de saltos de obstáculos. Uma coisa é certa: os obstáculos estão cada vez mais pequenos. Pouco a pouco, como um cavalinho bem ensinado, vou-os ultrapassando. O bote não vai sair daqui como eu queria que saísse mas vai sair. E vais trabalhar, mula teimosa. Garanto-te que vais.
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Escrevo no Divino e penso que vivo Palma como se fosse daqui: os meus sítios, os meus trajectos, as minhas simpatias e correspondentes antipatias. Até a vontade de me ir embora faz de mim um palmitano de gema: há algum sítio onde tenha vivido de onde não tenha querido ir-me embora?
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Encontro-me com A. para lhe pagar o trabalho do envio pelo correio do registo polaco. Foi a primeira vez que entrou num edifício dos correios, a primeira vez que enviou uma carta - e logo registada. Não sabia preencher um envelope (como não é muito desenrascada, disse-lhe para pedir à senhora dos correios que o preenchesse ela. Não sei se o fez se não, mas caso tenha seguido o meu conselho imagino a surpresa da funcionária). Poucas coisas me sinalizaram com tanto impacto o que é a mudança. O correio, bolas. O correio. Um envelope. Uma carta. Uma carta registada. Tudo primeiras vezes.
Encontro-me com A. para lhe pagar o trabalho do envio pelo correio do registo polaco. Foi a primeira vez que entrou num edifício dos correios, a primeira vez que enviou uma carta - e logo registada. Não sabia preencher um envelope (como não é muito desenrascada, disse-lhe para pedir à senhora dos correios que o preenchesse ela. Não sei se o fez se não, mas caso tenha seguido o meu conselho imagino a surpresa da funcionária). Poucas coisas me sinalizaram com tanto impacto o que é a mudança. O correio, bolas. O correio. Um envelope. Uma carta. Uma carta registada. Tudo primeiras vezes.
Ainda não digeri completamente esta história. Não que lhe atribua significados místicos de fim dos tempos. Não sou pessimista como o C. e não vejo nisto mais do que um sinal de que as pessoas deixaram de escrever cartas, coisa que já sabia. Mas é como ver fotografias da torre Eiffel e um dia vê-la ao vivo: Ceci n'est pas une pipe, é a sua imagem. Isto não é «as pessoas deixaram de escrever cartas». É: «como é que se preenche um envelope?» «O que é uma carta registada?»
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Andam para aí uns mini-Torquemadas a esvaziar pneus de carros grandes. Acreditam que há uma «urgência climática» e que os SUV são a causa da desgraça, ou uma das causas. O Homem não mudou, C. A desgraça de hoje é a de ontem e a de anteontem. Houve um pequeno período de luz entre as duas guerras e a seguir à Segunda, mas foi uma excepção. Um raio de luz, um só, que durou pouco tempo.
Enfim, o suficiente para criar ilusões.
Andam para aí uns mini-Torquemadas a esvaziar pneus de carros grandes. Acreditam que há uma «urgência climática» e que os SUV são a causa da desgraça, ou uma das causas. O Homem não mudou, C. A desgraça de hoje é a de ontem e a de anteontem. Houve um pequeno período de luz entre as duas guerras e a seguir à Segunda, mas foi uma excepção. Um raio de luz, um só, que durou pouco tempo.
Enfim, o suficiente para criar ilusões.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.